Registro de Carolina Milanezi Bortolon Rosa foi suspenso pela Justiça. Exame indica que substância desaconselhada para estética foi aplicada em paciente que denunciou caso à polícia. Raquel Roseli Demichei Dornelles ficou com o rosto deformado após procedimento estético
Arquivo pessoal
A médica Carolina Milanezi Bortolon Rosa, da Clínica Revive, investigada por deformar rosto da paciente Raquel Roseli Demichei Dornelles, teve registro médico suspenso no Paraná. A determinação foi encaminhada pela Justiça ao Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), que acatou o pedido. Cabe recurso.
O procedimento foi realizado em junho de 2023. A paciente alega ter ficado com o rosto duro, cheio de nódulos e muito diferente do que era antes do procedimento. Relembre abaixo.
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“Por consequência, determinou a proibição do representado de realizar quaisquer procedimentos estéticos ou médicos enquanto perdurar a investigação”, diz trecho da decisão.
O marido dela, o farmacêutico Tiago Tomaz da Rosa, também é investigado e teve seu registro igualmente suspenso, conforme o Conselho Regional de Farmácia (CRF-PR).
“Caso seja comprovada a culpabilidade ao longo do processo, as sanções aplicáveis serão determinadas de acordo com o previsto no Código de Ética”, diz o CRF.
O g1 contatou o CRM, mas não obteve retorno até a presente publicação.
A defesa da médica e do farmacêutico também não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
Anteriormente, em 9 de janeiro deste ano, a clínica alegou, em nota, que “a paciente não apresenta, presentemente, qualquer deformidade ou lesão por conta do procedimento estético realizado”.
Em 17 de janeiro, a clínica foi alvo de busca e apreensão em Cascavel, no oeste do estado.
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A investigação
A investigação da Polícia Civil pelos possíveis crimes de exercício ilegal da profissão e lesão corporal de natureza grave começou após a paciente Raquel Roseli Demichei Dornelles denunciar o procedimento estético realizado em Cascavel, no oeste do Paraná. O caso também é acompanhado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR).
Dornelles contou que procurou a Clínica Revive para fazer um procedimento chamado “Sculptra”, para estimular produção de colágeno na pele. No entanto, ela alega que o farmacêutico aplicou no rosto dela polimetilmetacrilato (PMMA).
A substância foi indicada por um exame de biópsia contratado pela vítima.
Raquel ficou com o rosto permanentemente deformado após procedimento
Arquivo pessoal
Segundo o Conselho Regional de Farmácia (CRF-PR), o PMMA é uma substância sintética aprovada para uso médico em casos específicos, como cirurgias reparadoras, e desaconselhada para fins estéticos, pelo alto risco de complicações, como inflamações, infecções e deformidades permanentes.
“No início tinha muita dor. Eu comecei a ter várias alergias. Eu não podia mais me olhar no espelho. Eu eu passei por um médico psiquiatra, para tomar remédio. Nem meu marido me aguentava, porque eu me olhava no espelho, eu me achava feia. Eu quase me separei”, contou Raquel ao g1.
Raquel conta que demorou cerca de 9 meses para entender que haviam feito um procedimento diferente do qual ela tinha contratado.
Segundo ela, durante o procedimento relatou ao farmacêutico que estava sentido muita dor. No entanto, ele disse a ela que era um sintoma comum do “Sculptra”.
Em casa, a dor não passou, e Raquel começou a notar que rosto estava inchando, momento que decidiu procurar a clínica novamente. Ela afirma que, na clínica, foi medicada, e que Tiago disse a ela que o inchaço era comum.
Raquel contou ainda que, no local, foi medicada pela esposa do farmacêutico, a dermatologista Carolina Milanezi Bortolon Rosa, que dizia a ela que os efeitos colaterais eram resultados de uma alergia.
Segundo ela, até aquele momento, ainda acreditava que se tratava de efeito colateral do procedimento que havia contratado e tinha a esperança que o corpo absorvesse a substância aplicada, como o esperado nas utilizações de “Sculptra”.
Após não ver melhoras, a empresária decidiu procurar atendimento dermatológico especializado. O médico que a atendeu suspeitou do produto usado e pediu para ela realizar um exame de biópsia, que indicou a presença de PMMA no rosto da paciente.
Quando o caso veio à tona, a clínica alegou que “a técnica profissional utilizada foi adequada, sem qualquer imprudência, negligência ou imperícia por parte do profissional”.
Também afirmou que, ao contatar o serviço, a paciente assinou um termo de consentimento e que, por isso, foi acionada judicialmente por afirmações “caluniosas, difamatórias e injuriosas” sobre o procedimento.
Fiscalização constatou irregularidades na clínica, diz conselho
Em setembro de 2024, motivados pelo relato feito ao Ministério Público, o Conselho Regional de Farmácia e o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) realizaram uma inspeção na Clínica Revive.
Segundo o CRF, durante a inspeção, a equipe constatou diversas irregularidades, incluindo a utilização do PMMA.
O órgão afirmou ainda que a Clínica Revive já foi alvo de outras denúncias envolvendo práticas inadequadas e possíveis violações de normas sanitárias.
O g1 questionou o CRF sobre quais denúncias foram essas, quando elas foram feitas e se elas foram acompanhadas pelo conselho. No entanto, o órgão não respondeu às perguntas.
O CRF disse também que está conduzindo uma análise detalhada da denúncia, para garantir uma apuração completa e transparente, e que as medidas necessárias sejam tomadas.
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