Greca defende presidente da FAS após orientação sobre uso da guarda para dar medo em pessoas em situação de rua: ‘ruído de comunicação’


Prefeito de Curitiba avaliou, também, que fala foi inadequada. Maria Alice deve falar sobre o tema na Câmara de Vereadores em data a ser definida. Rafael Greca classificou fala de Maria Alice Erthal como inadequada, mas defendeu trajetória da assistente social
RPC
O prefeito Rafael Greca (PSD) defendeu nesta terça-feira (29) a presidente da Fundação de Ação Social (FAS) de Curitiba, Maria Alice Erthal, após divulgação de áudio em que ela orienta funcionários a usarem a Guarda Municipal para provocar “um pouquinho de medo” em pessoas em situação de rua.
Ao mesmo tempo, entretanto, ele disse que a fala foi inadequada.
“No momento foi inadequada, mas na verdade o que é uma única palavra, um lapso de comunicação, um ruído de comunicação, diante da trajetória de bem que esta mulher fez a Curitiba?”.
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Esta foi a primeira vez que Greca falou sobre o assunto, desde o vazamento do áudio se tornou público em 24 de agosto. A declaração foi dada durante uma agenda pública do prefeito sobre testes de ônibus elétricos na capital.
Maria Alice não se pronunciou sobre o assunto desde o ocorrido.
O prefeito afirmou, ainda, que a fala de Maria Alice foi sobre “um temor que elas tinham com relação a uma assistente social que foi ameaça com caco de vidro.”
“Toda a população dá razão a proteção das assistentes sociais da FAS. Nós não queremos ver mulheres esfoladas com cacos de vidro nas ruas de Curitiba. Ser vulnerável não dá pretexto a ninguém para ser violento”, disse o prefeito.
Greca também destacou a trajetória de Maria Alice.
“A dra Maria Alice Erthal é uma assistente social de quase 40 anos de experiência. É uma pessoa de refinada bondade, de profunda humanidade. Nós devemos a ela desde os restaurantes gratuitos da Mesa Solidária, até todos os programas da FAS, inclusive a Pousada de Maria, para mulher vítimas de violência”, disse.
A FAS é responsável pela proteção de pessoas em situação de vulnerabilidade social e por coordenar e implementar a política de assistência social de Curitiba.
Quando o caso se tornou público, a prefeitura afirmou que “em algumas situações, a presença da Guarda Municipal é imprescindível para garantir a segurança das equipes de apoio”.
Vereadores entram em acordo por convite a presidente da FAS para que ela se explique
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Maria Alice deve falar sobre o caso na Câmara
Nesta terça-feira (29), um debate na Câmara de Vereadores de Curitiba (CMC) definiu que Maria Alice deve ser convidada para prestar esclarecimentos.
A definição veio após um acordo entre vereadores de oposição e situação que permitiu a retirada de um requerimento apresentado pela vereadora Professora Josete (PT) que obrigaria a presença de Maria Alice.
Apesar do acordo, ainda não há data para a câmara emitir o convite para Maria Alice, nem para que ela efetivamente compareça à Casa de Leis.
A situação definiu que a presença da presidente no formato de convite permitirá que ela fale sobre outros assuntos envolvendo a política da FAS, e não apenas sobre o episódio do áudio.
O líder do governo, Tico Kuzma (PSD), afirmou que Maria Alice está disposta a comparecer, irá explicar o contexto da frase e esclarecer outras políticas da FAS.
A líder da oposição, Giorgia Prates, considerou que a presença da presidente é fundamental e afirmou ter acionado o Ministério Público do Paraná (MP-PR) sobre a declaração.
O caso
Presidente da FAS orienta funcionários a levarem guardas em abordagens
O áudio de Maria Alice foi enviado em um grupo de aplicativo de mensagens, e a veracidade dele foi confirmada pela RPC.
O material foi vazado de um grupo chamado Ação Conjunta Matriz. A mensagem vazada, entretanto, não mostra como a conversa continua após o áudio.
No áudio, de um minuto, Maria Cecília se mostra incomodada com as pessoas em situação de rua e reclama da presença delas dormindo em rua próxima da antiga Rodoviária de Curitiba.
Veja, abaixo, o que ela falou:
“Bom dia, equipe. Eu queria pedir pra vocês passarem na André de Barros, ali perto da antiga rodoviária, que tá cheio de gente dormindo. E aqui na Marechal Deodoro fizeram até uma cortina para não serem incomodados. Então, por favor, ali tem que tirar aquele povo dali.
Se precisarem ir com a Guarda… eu não sei se vocês receberam alguma ordem de não tirar as pessoas, mas tá um absurdo aquilo ali, sabe? Se vocês puderem, não precisa tirar na marra, né? Que vá a Guarda Municipal para eles começarem a ficar com um pouquinho de medo, porque tá difícil, viu?”.
A reportagem pediu à prefeitura entrevistas com Maria Alice, com prefeito Rafael Greca (PSD) ou com outro representante da administração, mas a equipe disse que eles não irão se manifestar.
Transcrição do áudio da presidente da FAS, Maria Alice Erthal
Arte/RPC
STF deliberou recentemente sobre remoção de pessoas
Em 20 de agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para confirmar a determinação de que os municípios proíbam a remoção forçada de pessoas em situação de rua. A decisão referenda o que tinha determinado o ministro Alexandre de Moraes em despacho individual.
A decisão diz que estados, o Distrito Federal e os municípios não podem fazer a remoção e nem o transporte compulsório de pessoas em situação de rua às zeladorias urbanas e aos abrigos.
A decisão da maioria dos ministros do Supremo também veda o recolhimento forçado de bens e pertences das pessoas em situação de rua. Além disso:
Proíbe técnicas de arquitetura hostil, como instalação de barras em bancos de praças;
Obriga que serviços de zeladoria urbana sejam obrigados a divulgar, com antecedência, dia e horário de ações para que quem vive na rua possa recolher seus pertences sem conflitos.
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